Ao assumir a pasta da Previdência, na terça-feira (03), Carlos Lupi, atacou a reforma previdenciária e disse que era preciso revê-la. “A Previdência não é deficitária. Vou provar com números, dados e informações”, afirmou ele, todo pimpão.
A “prova” seria que os malvadões liberais haviam colocado na conta previdenciária benefícios assistenciais, “para dizer que ela é deficitária” e, desse modo, “levar à população à mentira”. A repórter Bianca Alvarenga, do Metrópoles, ouviu economistas respeitados, que mostraram que Carlos Lupi estava errado, havia feito uma “confusão contábil” e dado sequência a uma lenda urbana difundida pela esquerda. Foram elegantes. Eu classificaria como lenda agrícola divulgada por asnos.
Depois de Carlos Lupi ter asneirado, a Bolsa caiu, o dólar subiu, e lá foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa, correr para assegurar que não existe “nenhuma proposta” de revisão da Previdência. Quanto a Carlos Lupi, ele tentou retratar-se das suas certezas tão irremovíveis quanto um burro empacado, sem convencer o indistinto público.
Para completar o dia glorioso, Fernando Haddad, ministro da Fazenda (que não é o programa da Rede Record), em entrevista a um blog petista, confundiu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a autarquia encarregada de fiscalizar e normatizar o mercado financeiro, com o Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável pela formulação da política monetária e de crédito.
Disse o ministro da Fazenda, com aquela segurança dos sábios que lhe é característica:
“A CVM vai voltar a ser o que sempre foi: Planejamento, Fazenda e Banco Central. Esse modelo vai voltar, então teremos no assentou eu, Simone Tebet e Roberto Campos. Essa vai ser a CVM que define tudo: a política de crédito, meta de inflação, tudo o que seu estatuto prevê. O que tem ali é um secretário-executivo que organiza as reuniões, mas quem comanda a CVM são esses três membros, que definem a política monetária e creditícias do país.”
Atire a primeira pedra quem nunca cometeu lapsos numa entrevista, mas Fernando Haddad escandiu CVM, no lugar de CMN, três vezes antes de o galo cantar. O que faz supor que o lapso pode não ter sido lapso, mas erro bem errado mesmo, assim como a “confusão contábil” do colega Carlos Lupi. Talvez por isso o ministro da Fazenda tenha ficado nervoso, a ponto de, dois dias depois, dar um rabo de arraia num jornalista que perguntou a ele sobre a possível criação de uma moeda única para o Mercosul: “Que moeda única? Não existe moeda única, não existe essa proposta. Vai se informar primeiro”. Ué, mas ele não havia conversado sobre o assunto com o embaixador da
Por fim, na sua posse como ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet afirmou que o convite de Lula (feito por bilhetinho, não esqueçamos) a surpreendeu.
Simone Tebet disse o seguinte, suspirando pela perda do Bolsa Família e com aquela meia sinceridade de quem não se deu conta inteiramente da enrascada em que se meteu:
“Fiquei surpresa, porque fui parar justamente na pauta com a qual tenho alguma divergência, sendo que tenho total sinergia na pauta social e de costumes. Estou ao lado do time da economia, que vai fazer a diferença, fazer com que este governo dê certo, apresentando propostas concretas, para não faltar orçamento para as políticas.”
Ela também afirmou ter avisado Lula sobre a sua divergência na área econômica:
“Ele simplesmente me ignorou como quem diz ‘é isso que eu quero’.”
A “alguma divergência” de Simone Tebet, portanto, teria vindo para somar, não para dividir. Não entendeu? Nem eu. Vamos deixar assim, que é melhor: a mistura de quem prega a responsabilidade fiscal com quem acha que ela é uma “estupidez” veio para confundir, não para explicar.
É isso aí, amigos, amigas e amigues. No balanço geral, o governo Lula está mais para o programa de calouros do Chacrinha, com os economistas tucanos que apoiaram o petista de jurados — e, como é próprio da democracia, graças a Deus, o programa só acaba quando termina. Quem quer bacalhau?
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